Luiz Paiva de Castro

PROSAS II

Capa da Revista Kaleidós, número 1 – Dez. 2003, AMEF

Contra-capa da Revista Kaleidós, número 1 – Jan. 2003

Rosa, de Barbacena, Minas Gerais

Rosa, de Barbacena, Minas Gerais

Pequena estação de trem, parada, em Cabangu.

Rua XV de Novembro, Minas Gerais.

Cidade das Rosas, de Barbacena, Minas Gerais

Fortaleza, Ceará – Sábado 22 de dezembro de 2001

Infinito Instante

 

 

     Infinito Instante é o livro de poemas do professor J. Cimino, destino do próprio autor, como diz na contracapa: “Alguns de seus textos são meio poesia, meio metafísica”. Inspira-se sempre, numa visão pessoal, em grandes mestres da filosofia.

 

     Como membro da Academia Mantiquieira de Estudos Filosóficos (e também da Academia Barbacenense de Letras), membro correspondente, conheço o autor, J. Cimino, professor de Filosofia e outras pessoas responsáveis pela edição de Infinito Instante, a escritora Zilda Moreira de Castro e o professor Mário Celso Rios, presidente da ABL - Academia Brasileira de Letras.

 

     O autor de Infinito Instante, o professor J. Cimino, conheci pessoalmente durante as festividades dos 50 anos da EPCAer, de Barbacena, em maio de 1999.

 

     O jornal da AMEF e a correspondência com o professor José Cimino e outros escritores de Barbacena, aqui citados, conhecedor dos trabalhos de Zilda Moreira de Castro sobre Guimarães Rosa, nos fez olhar para Barbacena como um centro cultural de importância o que, infelizmente, não acontece hoje com Nova Friburgo, e acontecia no Império e início da República.

 

     O livro se divide em três pares: I - Meu ser no Mundo, II - Marcas Humanas, e III - Mundivivência, com um preâmbulo - Barbacena.

 

     A capa já nos leva a Barbacena, cidade das rosas e terra de Lívio Marques e os seus. Podemos dizer, sem desconsiderar as individualidades, que a turma pioneira de Barbacena tem a sua força e densidade de companheirismo e cultura, por suas ligações profundas com a misteriosa Barbacena, espírito etéreo na subida da Mantiqueira, feita pelo pai de Santos Dumont, o engenheiro Henrique Dumont.

 

     “Por sobre as montanhas, diz o preâmbulo, a gente espia longe e estende as mãos para buscar o futuro além das nuvens”.

 

     Mas como chão, terra aqui e agora, a montanha esconde seu rosto na manhã, satisfeita de sua própria imagem: “O sangue, fervor correndo nas veias do povo, ainda arde em anseios. Mas, por que o futuro, se a felicidade já aqui mora?” (pág. 19).

 

     Há indagações do livro de J. Cimino, as perguntas que povoaram o mais filosófico de nossos poetas, Augusto dos Anjos, ou Honório em Barbacena, estudado por Zilda Moreira de Castro. O poema “Vita Nostra” (pág. 83) exemplifica esta ligação entre a ciência e a filosofia, muito diferente da moderna época de TV, onde desaparecem borboletas e sapos nas montanhas, pelos raios ultravioleta oriundos da destruição da camada de ozônio. “O segredo do universo está dento do cofre da vida” “O que é a vida, vibrando em minhas células,/ nas plantas e nos animais,/ desde o leão até os protozoários?/ Ela palpita nos neurônios do meu cérebro/ e no ínfimo quark”. “É a intenção oculta do cosmos,/ cuja seiva caminhou,/ caminhou,/ até o desabrochar da consciência”. E Eu e outras poesias (edições sucessivas até alguns anos depois do aparecimento da televisão), diz o paraibano Augusto dos Anjos, que morreu em Leopoldina, Minas Gerais: “Sou uma sombra,/ venho de Outras eras,/ do cosmopolitismo das moneras,/ pólipo de recônditas substâncias/ larvas do caos telúrico...” (reprodução de memória). Esta poesia forte de Augusto dos Anjos, misturando ciência, filosofia, em uma visão pessoal, está no grande poeta Moacyr Félix, na década de 60, “O Pão e o Vinho”, Editora Antunes, colocando aqui nos trópicos, Hölderlin e Heidegger, desejando saber da profundidade do ser nele e no movimento cósmico, de repente sufocado por forças de difícil localização, como se estivéssemos vivendo a invasão dos marcianos. Luiz Heitor Paiva de Castro, de suas experiências de ver as estrelas, em Nova Friburgo, em “Relíquias do Sol (Dublin Poesias, 1968), traz perguntas sobre a vida estelar e o homem. Como em Auriga: “Pastor de campos noturnos, ele guarda no grave semblante o segredo das eras. Entre os homens, como o tempo, nas casas de pedra da aldeia, ele passa, indiferente; mas ao ver as lágrimas do viajante perdido, entre as mudas montanhas se inclina, e o devolve, em promessas, à antiga jornada” (Auriga, pág. 76).

 

     Este motivo constante de olhar o universo, está presente em Jorge Tufic em Boleta, a onça invisível do universo.

 

     O poeta J. Cimino sintetiza em Infinito Instante, esta busca do ser pelo ser (pág. 87): ... Longa é a noite/ com astros/ caminhando em marcha lenta, enquanto a mente busca,/ muito além das estrelas/ uma resposta/ para as interrogações/ que atormentam o espírito./ ... As horas são gélidas/ quando esperança não há/ Amargas,/ se os horizontes se fecham./ São tristes,/ se o tempo se faz hibernar,/ nublado./ Se me enclausuro/ no esquecimento da vida/”.

 

     O poeta cearense Francisco Carvalho em “As Verdes Léguas” (2ª edição, Casa de José de Alencar, Fortaleza, 1997, programa Editorial), continua o tema do ser, esquecido no aqui e agora metálico, ou na alvenaria do poder em Ária Primária (pág. 99): “O vento ancorado/ nos mastros do morto/ A seta do pássaro/ nos olhos do potro./ ... O vento invencível/ a límpida teia/ da aranha do orgasmo/ nas crinas de pégaso./ A flecha do vento/ varando a memória/ do tempo - esse invento/ da alma ilusória./”.

 

     J. Cimino em “O Sol” (em verdade, além do sol), responde às questões dos poetas, por eles mesmos respondidas em seus livros: “Para eles (planetas) alonga os braços de luz,/ o calor reparte/ e a vida latente/ na célula desperta./ No meio,/ nos espaços sem vazios;/ a quintessência (energia primordial, conforme a Medicina Tradicional Chinesa e explicada por J. Cimino na página 149) do Universo, quiçá da própria vida”.

 

     Resposta que o grande poeta goiano, que duplamente me aquinhoava com a referência, à mão, de Luiz Heitor Paiva de Castro como poeta, aqui trazido, e pelo poema “A Árvore do Cerrado”, a mim dedicado, trazendo a imagem da inocência ruidosa de Carlitos, coloca outra resposta para esta questão respondida por J. Cimino, de outra forma (Poesia, José Godoy Garcia, Thesaurus, 1999, Brasília, pág. 76): “O rio passou mil anos sobre a pedra/ e no fim de uma semana/ ele pediu ao pássaro/ que o ajudasse a tirar de sua memória/ o remorso./ Depois de muitas horas/ tanto o rio como o pássaro decidiram/ que passar sobre o corpo de uma pedra/ não era um mal. era a vida da pedra/ que não sabia nem cantar e nem voar./”.

 

     O filósofo que bebe na Grécia, as suas entanhas da quintessência, é poeta de Minas, e no Desterro-do-Meio, sabe da questão do Ocidente, muito mal conduzuda pelos romanos e os anglo-saxões, e intui a intimidade das cavernas de Minos com as cavernas afegãs, pela vinda do Himalaia até o Mediterrâneo, movimento inverso ao posterior movimento de Alexandre, O Grande, morto precocemente. Ele não se esquece da cultura grega, de muitos povos, e aberta para o saber como a cultura quinhentista lusitana. Foram estes, no Ocidente, e Luíx XIV, e os autro-húngaros, que tentaram resgatar a idéia da renascença perdida para os metais, com que Guilherme de Orange aprisionou de novo a barca do Ocidente, sem seu destino e na sua Tempestade - o metal e a destruição.

 

     J. Cimino está atento a seu passado, à Tia Inês posta em sossego (“Estavas Linda Inês posta em sossego, de teus anos colhendo doce fruito...”). Doce como a Inês camoniana, a Inês, Tia Inês, é bela: “As dores lembradas do tronco não te acendem o ódio.” (Pág. 24).

 

     Como Camões lírico aparece com enorme força no épico Os Lusíadas, J. Cimino alcança estas alturas de por a Pátria em versos libertários, que Cecílica Meireles trouxe em “Romanceiro da Inconfidência”. Em “Desconcerto” (pág. 109), o filósofo-poeta se apruma na concisa defesa da Pátria brasileira, terra e gente: “Roda gigante de minério-economês/ sufoca a raiz dos ideais./ Sobre a lousa/ dos patriotas, pousam coroas de cravos/ e a Nação ostenta um rosto frio e pálido.// O horizonte é fechado e obtuso./ Um vento corrosivo talha a verde planta./ O ímpeto alado de ousadas aves/ maça na fonte os anseios do homem ético.// O povo é tesouro soterrado. Dores/ impostas do alto descem e os que beijam/ o Pendão de outras terras/ alienam na arena do festim global.// No campo e na cidade, donos do poder/ costuram a política de linhas tortas./ Baixa sobre a Pátria a sombra do desânimo/ que inêmore vive à margem de sua história.//”.

 

     Mas o filósofo não está determinado pela História. Isto acabou: “O Tempo”, poema final do livro, pág. 139 - final do poema: “Só ele é tempo./ Fora dele, / o que há/ é um agora/ é um agora de ser fluindo/ sempre para o novo./ Ou não seria/ também ele,/ um 'instante'/ passageiro do imenso comboio/ da evolução dos cosmos?”.

 

     Livro para ser lido e posto na cabeceira da cama, para ler de novo, como faziam os antigos, saboreando a vida - Infinito Instante, J. Cimino, Edições AMEF, Belo Horizonte, Minas Gerais, 2001.

     Luiz Paiva de Castro

     Ensaísta

Em artigo publicado no Sabático, O Estado de São Paulo, 30/03/2013, Walnice Nogueira Galvão, professora emérita, da USP, – O Retrato de Um Civilizador, traz importante registro da atividade intelectual, cultural e humana, do morador, para sempre, da travessa da Estrela, em Belém, – Benedito Nunes.

Aqui, nada a dizer sobre o artigo e a grande presença, energética, quase visionária, do jardineiro, cuidando, após a Semana da Arte Moderna, do “bolsão cultural" de Belém, do seu jeito e no seu caminho, a que se refere a escritora, a densa estilística alemã, com prêmio Jabuti, em 1987, sobre a obra de Heidegger, aqui apenas uma referência, breve.

O que cabe cuidar de ver, nesta pequeno istmo, aberto apenas para lembrar, – as lembranças, hoje, necessárias, da existência, em 2003, – da revista Kaleidós, da AMEF, Barbacena, dirigida pelo professor José Cimino, e que adiante não seguiu, após os primeiros passos, dois cuidados números, – um grande grupo de colaboradores e membros da Academia Mantiqueira de Estudos Filosóficos, pelas inúmeras dificuldades em se fazer, e dar curso, após a nascente, a fluxos culturais, assim, – que os grandes rios, como o Amazonas, vão sendo, após o filete da origem, no nevado Mismi, no Peru, energizado, pouco a pouco, com a chegada, contínua, de afluentes, até quase a sua foz, no Atlântico Amazônico.

Nem isto a tanto, em cultura, literatura, arte, – a civilização, assim, idealizada pelos humanistas, após a Renascença, se mostrou quimérica, não só pelas guerras, simplesmente apavorantes, – nem uma enorme manada de elefantes enlouquecidas, de antigos tempos, poderia supor, de longe, tal destruição, – a do século XX, nem isto a tanto, pois, – que, quem pode saber, – a economia a puxar o trem, agora virtual (na aparência), – o materialismo, de fato um somatório de egoísmo, onipotência, crueldade, e desespero, à morte vazia, fruto de biografias, apenas contabilizáveis, e a inexorável visita, adiante (próximo) da visita do personagem do Sétimo Selo, derrubou, num só estirão de boliche, jogo rápido, – para uma geração, talvez, – memória dos lugares, consistência familiar, palavra empenhada (museu, hoje), valores sagrados, afeto, muito e muito mais.

Inclusive a cultura, fruto consistente do pensamento, próprio do homem, que seria, por certo, a sua diferenciação fundamental, dos outros seres vivos, fácil de constatar, – e difícil ficou, que a sua origem divina passou a ser questionada pelos próprios homens, e é ela inerente à fé, às dificuldades e limites da ciência humana, em relação ao cosmos, – e se não se tem mais a natureza antiga do indivíduo, – a massa e a excelência, nomeada, ao acaso, – tomaram todos os espaços, – Deus não é mais o convívio sereno dos antigos para o céu, passou a ser, quando é lembrado, muitas vezes um chamamento para o socorro, no desespero humano.

Os “ bolsões de cultura", aqui, na história, recente, do país, após a Semana de Arte Moderna, são anotados pela articulista, da USP. E espanta como, Brasil afora, se responde a novos tempos, se desperta o homem de Altamira, que espantou Picasso. A súmula, dita rápida, é, de fato, extensa, não se restringindo a Rio, São Paulo: Madrugada, no Rio Grande do Sul; Arco e Flexa (1928), na Bahia;A Revista, em Minas. Apenas uma questão existe, uma dúvida, que não é posta aqui, como oposição ao artigo, consistente: no paralelismo, milenar, e na difusão, crescente, no século XX, – pode-se chegar, adiante, aos mesmos resultados da Semana da Arte Moderna, em São Paulo, por olho próprio, interno ou externo, – pelo menos em alguns casos, ou pela difusão, que nunca tem mão única. A questão carece de importância pela relevância, em si, da Semana da Arte.

O importante, mesmo, não é só o conteúdo, mas a forma viva, irrequieta, do ser humano, como pensamento, cultura, invenção, de criar, na história, a partir da clareira, como pos o pensador alemão, estudado por Benedito Nunes, filósofo e estudioso da literature brasileira (nunca o desmatamento e sua aridez) – que estava presente tanto na Semana de Arte Moderna como em subsequentes, e já distantes manifestações culturais, – país outro, sujeito à vertigem do avião moderno, – isto é, os que chegaram para negócios de cidade, sem qualquer desejo, explicitado, de fazer morada no país (um direito, inquestionável, do ir e vir), e ficar, se misturar à paisagem, em trocas, – o que, sem dúvida, tirou das cidades maiores, por perda de memória e identidade, o chão próprio, dos Lima Barretos e dos Cartolas, dos Marques Rebelo e dos Vinícius, – deixando este legado de invenção, em boa parte, para habitantes, capazes de olhar o céu e o mundo, pisando em suas antiguidades de província, – o que já era e sempre foi, o guardado eterno de Benedito Nunes, na Travessa Estrela, e foi o caminho, em 2003, com Kaleidós, e, antes, com o jornal, – do professor, filósofo e poeta, José Cimino, e o grupo da AMEF, em Barbacena, fazem dez anos, em 2013. Aqui, reverenciado, como uma das boas, vivas, sólidas, caminhos da cultura pelo conteúdo das revistas, a filosofia, no centro, e das reuniões, o café filosófico, na histórica Barbacena, terra, de fato, na época de seu nascimento, – de Alberto Santos-Dumont.

Benedito Nunes, filósofo, crítico literário e professor – em sua biblioteca, na travessa da estrela, em Belém, Pará.

Travessa da Estrela, em Belém, Estado do Pará.

Charles Chaplin, em "La Quimera Del Oro" ("Em Busca do Ouro") – cinema mudo, 1925.

Capa da Revista Kaleidós, número 2 – Dez. 2003, AMEF, Barbacena, Minas Gerais

Contra-capa da Revista Kaleidós, número 2 – Direção do professor e filósofo, José Cimino.

Rosa, de Barbacena, Minas Gerais

Rosa, de Barbacena, Minas Gerais

Rosa, de Barbacena, Minas Gerais

Fazenda Cabangu, Avião da Força Aérea Brasileira.

A casa do seio e o seio da casa
Luiz Paiva de Castro
É inteiramente secundário saber se a palavra e o pensamento são oriundos de uma tela beta, confusas imagens e sons, no bebê, e que não podem estar, na memória, depois, senão em fragmentos, e de uma tela alfa, oriunda desta, mas em dimensão do pensar, com a realidade, um início, que se diferencia, de pensamento organizado. (Bion, 1983). Atela alfa, no entanto, já o bebê em trocas com a realidade, começando a pensar organizadamente e a articular palavras, compõe a memória diurna, da vigília. A tela beta, no homem, pode aparecer nos sonhos, claramente, em termos, adiante, rumo fragmentos, fora do espaço-tempo, e é matéria de nebuloso entendimento, as partes que caem no desconhecido, algumas delas, referidas por Freud e aqui anotadas (O “só melhora quando chove”, também anotado).
Este é o aspecto externo-interno, da questão pensamento e linguagem. Na origem, pergunta de Chomsky se essas telas alfas e beta se explicam, e a parte beta, de alguma maneira, passa, a se organizar, diante da realidade, e a parte beta fica no onírico, fragmentada, e a parte alfa é a consciência e o barro mais imediato do ser, a parte beta que se transforma em alfa, poderia, em outras condições, se transformar num alfa (beta , caminhando para o beta, sem a hipótese da psicose), isto é, o tempo seria negativo como numa regressão, fato encontrado em pessoa que revelou, por hipnose médica, no referido processo de regressão, em idade anterior ao nascimento, que sentia algo no abdome (dentro do útero da mãe) onde estava, e havia sensação de desconforto, descrito como“ago” estranho, ali.
Adiante, ela revelou, não se decifrando a situação, repetida, e por ela mesmo confirmada, que tivera, realmente, um irmão gêmeo. Não constava de sua história hospitalar nem a ele fizera referência porque não o conhecia. Foram afastados, após o parto, na maternidade, criados por famílias diferentes, de outros estados, com a permissão da mãe biológica, que nunca mais viu. A utilização da energia do pensamento alfa para juntar o que existia, na tela beta, é, aqui, da maior importância, desvendando-se sua história pregressa.
É intrigante neste sentido filosófico e físico, nesta questão sobre pensamento e linguagem, o poema Carta, de Adélia Prado:( op. cit., p. 411) : “Jonathan, / por sua causa / começam a acontecer coisas comigo. / Ando cheia de medo. / Quero me mudar daqui. / Enfarei dos parentes, / de meu cargo na paróquia / e cismei de arrumar os cabelos / como certas cantoras. / Não tenho mais paciência / com assuntos de quem morreu, / quem casou, /. Caí no ciclo esquisito de quando lhe conheci. / Fico sem comer por dias, / meu sono é quase nenhum, / ensaiando diálogos / pra quando nos encontrarmos/ naquele lugar distante / dos olhos de Marcionília / que perguntou com maldade / se vi passarinho verde..... /
.... Da janela do quarto onde não durmo / fico olhando Alfa e Beta, / que na minha imaginação, / representam nós dois. / Você acha infantil, Jonathan? / Pediram insistentemente / para eu saudar o Embaixador. / Respondi, não. / Com todas as letras, não / Só pra me divertir, expliquei / que aguardo na mesma data/ visita da Manchúria, / professor ilustre vem saber/ pra que encho tantos cadernos/ com este código espelhado: / OMAETUE NHATANOJ / Torço pra estourar uma guerra / e você ser obrigado / a emigrar para Arvoredos. / Me inspecionam. / Devo ter falado muito alto. / Beijo sua unha amarela / e seus olhos que finge distraídos / só para aumentar minha paixão. / Sei disso e ainda assim ela aumenta. / Alfa, querido, ciao. / Sua sempre Beta./
Jonathan é nome criado pela poeta, personagem de seu mistério. Dizendo-se Beta e infantil, o alfa é a palavra vertebrada. Toda mensagem deve ser inteligível, diz Cohen (obra cit. p. 87. ). E declara que a linguagem poética é uma violação de um código, mesmo não gramatical, como a da prosa mais convencional dos eixos de Saussurre, tentando entender pela estatística, de autores, questões da pertinência e impertinência semânticas, Cohen chega no limite da descoberta. Neste caso, o poema não é a expressão fiel de um universo anormal, mas a expressão anormal de um universo comum, ou a impertinência é uma infração ao código da fala, situa-se no plano sintagmático; a metáfora é uma infração ao código da língua, situa-se no plano paradgmático. (p. 94). No entanto, a busca é feita por estatística onde não há marca e cheiro de poesia e muito menos da origem de sua montagem desde o ser, como no poema Carta de Adélia Prado, misteriosamente lírico e poético.
Ao considerar que haveria apenas uma diferença de enfoque (grande), demarcando Sausurre e Damaso (Ramos, 1969), cabendo a Sausurre se debruçar sobre o fenômeno da linguagem, na prosa, e a Damaso Alonso sobre o fenômeno poético, a autora, em Minas Gerais, sem se referir à física e à velocidade da luz e trajetória, diretamente, considera as diferenças entre prosa e poesia que não apenas semânticas ou de quebra de código (Cohen, op. cit.). Diz Ramos: “O signo poético, entretanto, pressupõe tal relação entre seus elementos constitutivos, que significante e significado chegam a fundir-se numa só realidade, cuja expressão é irreversível, e cujo sentido, se não foge integralmente ao conceito, – pelo menos o utiliza .... – a um alcance polivalente” (op. cit., p. 17). Ao eixo das simultaneidades (AB) e ao eixo das sucessões (CD), que poderiam ser negativos, considera, a partir de Damaso Alonso, outra notação gráfica, e chega a exemplificar com um poema concreto de Augusto de Campos (p. 111). Em O Estrato Ótico, faz referência “à disposição ziguezagueada”do poema concreto que “se torna um significante material da velocidade com que as coisas se transformam: tudo se passa como um relâmpago, símbolo muito explorado em relação à efemeridade da existência “(id. ibid).
Em 1969, próximo às conferências de Chomsky; na Califórnia, espanta esta visão de Maria Luiza Ramos, do poético, mostrando como o Brasil, nesta época, se tinha grandes dificuldades internas, desdeIK caminhava com seus próprios pés, com sua água e alimentos abundantes, internos e externos. Há, no entanto, uma visão de que transformações externas são as responsáveis pela notação diferente, na poesia, e mesmo no poema em si, o que não corresponde à realidade quântica, nem mesmo à emersão de conteúdos, não aproveitados e não sabidos, como vimos em Platão, captada pelo Tão e por Hahnemann, e vislumbrado por Platão, é a poesia, na pesquisa direta, de Adélia Prado, no seu primeiro livro, Bagagem (1976).
Onde se dá a revelação da palavra, sua invenção, seu aparecimento? Claramente na terra, não há notícias ou vestígios de outras comunidades humanas como as nossas, fora de nosso planeta. Nas grutas ,do magdalenense, Espanha e França, habitadas pelo homem de Cro-Magnon (Hooton, 1954), há desenvolvimento, nas mandíbulas, que poderiam indicar uma fala inicial, corroborada por toscos instrumentos para a caça e pelo fogo, utilizado, contra as feras noturnas. Não havia escrita, mas pintavam eles nas cavernas, e lá estão as pinturas, em posições e lugares de difícil acesso como se fossem altares, dizia a dra. Nise da Silveira, estudiosa jungueana. Mesmo sendo originada, basicamente, de motivação religiosa, seria necessário um excedente de caça para manter os pintores, conforme Gordon Childe, historiador dinamarquês (Childe, 1955). A última geleira aconteceu faz cinquenta mil anos e, na Europa, só ficaram de fora, não gelaram, parte da Espanha, França e Portugal, o último com menos cavernas. A caça de bisões e outros animais tornou-se fácil e abundante. As geleiras cobrirão de novo a terra, onde há neve, muito antes da morte do Sol (Gribbin, John. 1983).
E então? Apalavra calada de Adélia Prado, em Antes do Nome, continuará calada e indecifrável, em sua origem? Será, de fato, e os incas teriam razão, que a colonização da terra só pode se dar do quente para o frio, o Tauantinsuyu? Neste sentido, a guerra por reservas de petróleo ou a capitalização de poucos pela utilização da moeda sem lastro, dos sistemas instáveis, cobriria, se isto fosse possível, o risco de invernos sucessivamente maiores, no hemisfério norte – o que já começa a acontecer. Um quadro romano, não um quadro grego. Uma dominação de Júlio César ou de Marco Antônio, não uma reflexão de Platão ou Aristóteles.
A poesia aqui continua, a ciência também, o pensamento filosófico, a cultura popular... Mas a inocência, a nossa inocência, a bendita inocência, nos deixa filhos de Deus, esta pergunta que Hawking trouxe de volta com a sagração da estrutura binária, no Universo onde vivemos, e para o Homem, de que o Sol, com os planetas, participa e gira, em torno de um Buraco Negro, Não quem, mas o que originou o Universo, que não parece ter sido uma mera explosão ocasional ou fruto de matéria-energia em retração máxima? Não é esta a questão central deste trabalho, a origem do Universo, questão metafísica, mas a palavra poética e sua origem, a origem mesmo da palavra e suas ligações, no barro sideral, com o pensamento, e que já existiam, na física e, agora, se tornam marcantes, com a nova física, – e são, assim, as questões centrais, conectadas com as do Absoluto, e que precisam ser, pelo menos, nomeadas e delineadas.
Laéria Fontenelle procura alcançar o âmago do ser poético em Adélia Prado, o que É feito por Wendel Santos (Santos, p. 89) com Cassiano Ricardo, João Cabral de Melo Neto e Manuel Bandeira. Em Jeremias sem chorar (p.3), de Cassiano Ricardo, está dito: “O mundo do terror/ e do encanto/ me obsta o pranto. “Posição que não é seca como a de Cabral, nem celestialmente chorosa como a de Adélia, nem lírica épica como a de Cecília Meireles. O lírico, em Adélia, busca o céu, a feliz vida de província. Cassiano Ricardo é um lírico que questiona o sistema. Em verdade, dentro da ótica privilegiada, neste trabalho, o do sistema binário, já referido, aqui; ele, Jeremias, paralelamente, não aceita ter, sido desmontado um sistema ptolomaico (a Terra no centro), e ter sido posto, em seu lugar, outro sistema ptolomaico (O Sistema Solar no centro do Universo), embora não haja referência a isto, mas a valores autoritários e alienantes.
O encanto de poetas como Adélia Prado, o Bom, é para ele, lentamente, amordaçado, com coreografias de liberdade: “Subtraído à lei da gravidade/ perdi a noção do que é grave./ “ (ibid.) Os impedimentos se sucedem. Cassiano segue no encalço, poesia da verdade, e Wendel Santos, de Goiás observa:. “Um coice de cavalo / no comício / e eu – Jeremias seco – / olho de vidro. “Jeremias, para Wendel, está dilacerado, partido em cacos, não os caquinhos, de Adélia, onde ela põe a faceirice, enquanto discute sobre vários temas. Outro destino, grave.
Neste terceiro impedirnento, ele se parece, o Jeremias de Cassiano, com um paciente de Hering (Hering – 1986 – v 9-p. 398), que, medicado em silícia, baixa dinamização, viu os cacos de vidro sairem de seu pé, inflamado. O ponto de acupuntura IE (um do canal do estômago) significa Vale de Lágrimas, e, por aí, no choro, escoa o humor aquoso, as lágrimas. Jeremias Sem Chorar secou as lágrimas, sofre calado, e as lágrimas se transformaram num silício inerte, que não vai para fora e não internaliza, como acontece talvez, silenciosamente, em Carta, de Adélia, distante de sua Bagagem, inicial. Diz o crítico literário goiano : “Jeremias seco é o anti-Édipo. – enquanto que o herói grego arranca o olho para atingir o modo de ver entre as linhas do destino, o herói contemporâneo é obrigado a substituir o olho que vê pelo olho que adoma. O olho de vidro querendo encobrir a humanidade dilacerada, produza dilaceração maior: a dilaceração da consciência, que é induzida a comportar-se como plena, embora lhe seja roubada a virão.” (op. cit., p. 96)
Jeremias vai sendo atingido pela via, as dificuldades da vida. Nele, se torna objetivo, a visão, o olho. No entanto, Adélia não foge a dizer do que lhe atinge, como isto acontece, embora os dados biográficos sejam escassos para localizar ganhos e perdas, fantasia e realidade, na sua obra e na crítica literária de Laéria Fontenelle. Isto a preserva, sem dúvida, não a expõe, mas aguça o mistério para o entendimento do seu mundo real, suficiente para o entendimento de certas questões à distância, como Jonathan, o divã, e outras, e que tratadas, com seriedade, impediriam a idealização do poeta ou o oposto, o anjo torto, de Drumond. Hawking estudou e pesquisou com dores lancinantes, impedido, antes dos trinta unos de andar; depois de escrever; e adiante de falar, e isto não foi usado para a aceitação de sua nova física, mas não foi escondido.
Ele não é um personagem como Jeremias, é o autor mesmo. Por que seu pensamento e linguagem não explícita não foram atingidos? Também não cuidou da realidade externa, que, hoje, enriquece, empobrece ou marginaliza, mas, quase sempre, traz a atualidade dos radicais livres, isto é a formação de água, o básico da matéria para Tales de Mileto, segundo Aristóteles, é obstada, fragmentada em resultantes de vida muito curta e danificadores. Teria sido esta a razão imediata do olho de vidro, de Jeremias? Bem Adélia : (O Bom Pastor (op. cit., p. 338 )“Me deixo estar inerte / porque não há em mim qualquer coragem. / Não posso ter, nem ser / nem morrer, nem viver, / não posso entrar nem sair. / Clamo por Deus e Ele me devolve ao tempo / às notas fiscais que – por ordem do governo – deve exigir de meus negociantes. / Por que todo este peso sobre mim? Não quero ser fiscal do mundo,,,,”
Este bloqueio da energia difere do despedaçamento e substituição por um olho de vidro, em Jeremias, sem Chorar. No entanto, a questão do pensamento e linguagem, não é radical, contém as nuances da provisória perda e a lesão, como no próprio Newton e em Hawking. Em outras palavras, a energia que busca Chomsky ou um sentido para explicar pensamento e linguagem, não é absoluto, como o tempo não é absoluto, nem mesmo o era para Newton. Tudo isto, melhor dizendo, foi um processo, um longo processo interestelar e planetário. O que seriam os pontos de acupuntura, nesta direção, o que seria a energia vital de Hahnemann, o que é o Bom, em Platão ?
Não cabem respostas, assim, nesta forma, e seria uma aventura dá-las antes de Hawking, e, mesmo, depois de seus achados. Ali está comprovada a energia do vácuo. Originaram os pontos de acupuntura? Na especialização do saber, no Ocidente, senão a sua troca pelo, saber de aparelhos, é distanciamento da intertextualidade, fica-se com a comprovação parcial. A de que, de fato, o ponto Guanyuan, Portão do Destino, 4 VC, quatro vaso da concepção, é o ponto onde se recebe a energia do sopro, primordial. A formação do embrião não começaria para os chineses, antigos, apenas pela fecundação do óvulo, mas pela chegada desta energia que daria início ao processo de diferenciação do ovo. A casa do Seio, Yin, a mãe, estaria ligado ao sangue, para nutrir o embrião, adiante, e ao leite ao nascimento, e o Seio da Casa, ao Yang, do pai, o Y, o esperma, e o conduzir o filho para o mundo, valores sabotados e, às vezes, invertidos, nos trinta últimos anos de dez mil anos, do neolítico.
Para isto, basta destacar três pontos de acupuntura e consultar Maciocia (1989 – p. 469 e 471), isto é, o trajeto dos vasos maravilhosos, o REN MAI E o DU MAI, vaso da concepção 4; vaso governador, Yin, o primeiro e Yang, o outro. Não são vistos a olho nu e apenas apalpado o Qi, de cada órgão Zangede cada víscera Fu, nos pulsos radiais. No entanto no 15 VG se estimula afala (no dorso, interseção da linha de implantação do cabelo e é usado, segundo o autor, para dificuldades de fala, em crianças). O ponto-4 VC é um ponto para ligar energias arcaicas, segundo Maciocia, energias da essência estocada no rim talvez ou hipótese a questão básica da esclerose lateral amiotrófica, de natureza desconhecida, não genética, que atingiu o físico Hawking. Não é questão para se discutir aqui.
Fica, pois, estabelecido um vínculo precioso entre a energia da essência (Yuang-Qi), talvez ligado ao Prushna, dos indianos, com a energia do baço e dos pulmões que formam o QI alimentar, semelhante talvez ao Praikinit dos indianos. O Bom, em Platão tem de atravessar, dia a dia, as sinalizações dos órgãos Zen, enquanto Adélia Prado faz compras e cozinha, e faz o poético atravessar, sem perder a sua força, este movimento de mãe é dona de casa, necessários. Nem sempre, no cotidiano, esta pureza se mantém. Quanto aos alimentos e quanto à alma, nas cidades, e mesmo nas províncias, a energia se polui, se corrompe, antes de ser o líquido túrbido, excretado, pela existência planetária e perecível.
O Bom, de fato está estocado, não antes do Tempo, na Casa do Ser Supremo, mas no rim, como essência, no primeiro folheto endodérmico. Esta energia, que cresce até os vinte um anos, segundo a Medicina Tradicional Chinesa, hoje em dia, por uma discutível teoria radical da instabilidade, fora da fissura do átomo, onde ela existe, de fato, de quase impossível reposição pela destruição da natureza e falta de técnicas, no Ocidente para isto, é gasta com coisas ruins. Da vida, com vícios desnecessários ao prazer da simplicidade ou na complexidade do fluir mais sério, o brinquedo e a fantasia, o amor.
Esta essência, de bilhões de anos, em sua formação, perde a noção que Bachelard dá à casa do Homem (Bachelard – 1974, p. 24): “ ... a casa é o aconchego, o canto do mundo. Ele é, sem dúvida, nosso primeiro universo. Mais precisamente, um cosmos. Em toda a significação da palavra, ela é um cosmos. Vista intimamente, a mais humilde morada, não é bela”. A poesia de Adélia Prado se passa, quase sempre, na casa ou no cosmos. Na visão de Paracelsus, a casa é o cosmos mesmo, dando prevalência à energia da essência: (Paracelsus, 1973): “Como Céu e a Terra se uniram para formar o princípio, o corpo material é o princípio navegado, e, dentro de si .... Uma matéria vazia (não ser), na qual a criança não é senão o que ali está contido, como o Céu e a Terra, antes de qualquer vida. Por isso mesmo, o homem é uma criança no cosmos .... A criança, no corpo da mãe, vive no profundo e longíquo firmamento, e, de outro lado, O corpo da mãe vive fora deste firmamento.”
Esta essência pode ser vista também na filosofia de Heráclito, o contínuo movimento e de Parmênides, a esfera imutável, como resultado do movimento, após o tempo ser contado como realidade irreversível na sua dimensão temporal, não na sua dimensão onírica, negativa.
A essência é, pois, o que existe guardado no ser e que pode ter vindo antes do ser (a essência do céu, pelo ponto quarto Vaso da Concepção, Guanyuan) e depois do ser, a essência capturada, sua condição ideal para isto, até os 21 anos, Segundo a Medicina Tradicional Chinesa.
Há uma parte, pois, que não é presente, fugindo da afirmativa de André Comte-Sponville do “eterno presente” e que pode estar num passado distante, misturada com a origem longínqua do próprio céu, como pode perceber Paracelsus (op. cit.). Pode também fluir pelo Qi do fígado para o devir, guardada desde os rins e levada à existência, ao ser humano na terra.
No seu trabalho, Tempo e Casualidade (I. Cimino – Kaleidos, v. 1, n.1, p.142), o autor faz referência a está possibilidade do processo criador contínuo a partir da essência de outra forma: “tal potencialidade” é algo de real, enquanto a semente está sendo programada para vir a ser um de carvalho. O mesmo se pode dizer de todo e qualquer ser em devir. Seu futuro ou seu “por-vir” é determinado campo de possibilidades, as quais dependem da estrutura profunda do ser que ele é. Há uma energia programada que está recôndita, na physis que, sem cessar, irrompe na direção do próprio futuro. (op. cit.)
Desta essência vem o muito melhor de Platão, o bom de que é feito o mundo, antes do tempo e ação do homem, no neolítico, preferindo o poder a Luna existência plena e visível para constelações mais distantes, quer o olho do comício, o temporal vazio, e o coice chega, e Jeremias, sem chorar, para pertencer ao passageiro mundo do poder, as suas ligações cósmicas.
Numa exposição sobre vasos maravilhosos, em ambiente de medicina Tradicional Chinesa, pessoa com capacidade de ver transcedentalmente, o que ocorre, às vezes, como a semente da árvore de Nietszche, que não gera um carvalho como no exemplo de José Cimino (op. cit., p. 142), se enraíza profundamente na terra, chega ao ferro profundo e estende seus galhos para o céu, esta pessoa simplesmente “viu” os vasos maravilhosos e o caminho colorido dos meridianos que se estendem por todo o corpo. São invisíveis para o homem atual, mas não o eram, faz muito tempo.
O homem tinha sentidos mais apurados em contacto direto com a natureza, faro, olhos e ouvidos. O desenho feito dos canais e colaterais, dos vasos maravilhosos, no corpo de um homem, por quem nada sabia da essência e deste trajeto energético, não surpreende, por ser uma pessoa-exceção, para o que talvez já tenha sido comum, inclusive a linguagem poética como, a de Adélia Prado, voltado para o lírico e o conhecimento de si e das coisas.
Há uma perda enorme da essência do homem durante todo o neolítico e a física de Hawking, resgata esta nova possibilidade, do homem cuidar de novo do muito bom de Platão, de sua essência, não a malbaratando, não a desperdiçando, e tomando sentido definitivo que sua ligação com a natureza deve ser atômica de sua vida no ocidente como foi e é no oriente indiano e chinês.
A ligação da essência guardada no rim com o céu é inteiramente o movimento de poesia de Adélia Prado na sua caminhada da terra para o lirismo inocente e cósmico de sua poesia espiralada, veloz e verdadeira, dentro da visão de Wendel Santos e Maria Luiza Ramos e, basicamente de Laéria Fontenelle.
Esta visão é a mesma que leva a Rilke, de uma forma, mais adeliana, nas Cartas a um jovem Poeta (Rilke, p.23): “O Senhor está olhando para fora e é justamente o que não deveria fazer neste momento .... Procure entrar em si mesmo... Utilize para se exprimir, sonhos e objetos de suas lembranças... Mesmo que se encontrasse em uma prisão, não lhe ficaria sempre sua infância, essa esplêndida e régia riqueza, esse tesouro de recordações?”
Não é o caminho que leva a Rimbaud, gastando a sua essência em poesia atormentada da juventude (Rimbaud, 1993) e de repente entregando os originais de iluminações ao poeta amigo e desaparecendo para o tráfico de armas da Abissínia, em busca do pai e em fuga da mãe devoradora, mas mais profundamente queimando o pavio da essência na terra, até o derradeiro sopro, quando abandona os bens materiais, em busca de algo que sabe ser diferente, algo recôndito, de uma visão muito arcaica e teima em desocultar na terra, quando é um processo para sua chegada na origem, para sua lenta recapturação (Qi gong, do Tao) e um mistério, após a morte, marcado, de uma ou de outra forma, em todas as religiões, fora o materialismo marxista e o materialismo econômico atual onde o bezerro de ouro, o dinheiro, é o único objeto a ser reverenciado.
A Ligação da essência com o céu, e isto pode estar captado na forma da descoberta de Hawking em relação a velocidade da luz ao cubo, no buraco negro, a não existência de radioatividade no buraco negro e a constatação de que ha uma “energia do vácuo”, de natureza Yang, expansiva, que tende a zero na sua massa e com velocidade acima da luz. Disto se percebe que a velocidade ao cubo da luz modifica toda a estrutura do Universo, com a ausência da radioatividade, muda as características da incerteza do que foi considerado por Heisenberg como o novo princípio da Física Quântica.
Não que ele não esteja mantido, mas ficaria, então, restrito dentro do que se pode deduzir, sem maiores consequências, a priori apenas, das descobertas de Hawking, sobre o Buraco Negro e as possíveis energias que nos chegam com a energia do vácuo, uma energia Yang, mas Yang do Yin, sem o calor radioativo, isto é, próprio do ser humano contrário à radioatividade e sem com ela poder conviver, de nenhuma maneira.
As equações de Einstein de 1905, pré-requisito para a teoria da relatividade e para a fórmula E=MC2 que levou à bomba atômica, (Stachel, obra cit.) deixaram de lado, conforme o próprio Stachel, as teorias de energecismo que não estavam teoricamente na Europa, mas na prática de Samuel Hahnemann, durante muito tempo, o único tratamento, a força vital para as doenças humanas, o que, em artigo de 1990 (Vervolet, Eugênio – 1990, em Revista Brasileira de Homeopatia), deixa Vervolet, muito claro, que, na época de Kant, a grande maioria dos hospitais americanos eram homeopáticos.
Einstein caminhou em outra direção. Como provar, em sua época, qualquer sistema, mais além do Sol? Hawking foi ajudado pelos telescópios espaciais, na sua teoria positivista da física, não apenas em uma metafísica questionadora e necessária em relação a física nova que se transcende no Universo em expansão, mas na própria existência de canais colaterais, só muito recentemente considerados pela medicina ocidental, e em nível de especialidade médica.
Esta velocidade do pensamento, na lenda escandinava, em que o deus perde a corrida para um velho e pergunta contra quem corre e perde, a resposta é de que ele teria corrido contra o pensamento, indicando que o pensamento é uma criança, mas em sua natureza ele é velho, isto é, anterior ou simultâneo ao “instante zero”, o Lao-Tsé, dos chineses, e que Teilhard de Chardin percebeu na sua concepção não-evolucionista do ser humano, o melhor possível desde sua existência.
Esta essência aparece na poesia de Adélia Prado, em Bagagem, e não mais se perde, se transforma na sua bela poesia e na prosa poética, aqui trazida em alguns fragmentos e na crítica de Laéria Fontenelle.
Muitos são os desdobramentos da questão de pensamento e linguagem, em Chomsky e suas ligações com a linguagem poética e a este sistema Sol-Buraco Negro ou Buraco Negro-Sol e com as estrelas metálicas, futuros eventos, com estrelas brancas, do buraco negro que as cerca.
A poesia, como o ferro, pode ser premonitória (o ferro é a última camada da estrela metálica), futuro evento do buraco negro e a transferência, no ocidente, no século XXI, de eixo químico das pesquisas astronômicas para o eixo físico-além-da-física visível, não resolve a questão do Absoluto, mas põe a poesia e o homem em contacto mais direto com o enigma da criação, embora continue a ser ela um processo contínuo, mas fora, na sua essência, de eixo atômico, da fórmula E=MC2.
Estamos, agora, diante da humana descoberta de Hawking E= MCn-2 sendo n desprezível ou tendendo a zero e Cn-2, sempre maior ou igual a C3, isto é, inimaginável e invisível para o homem humano na Terra.
Mas não para Adélia Prado e outros poetas, pela metáfora da poesia e da mágica do pensamento real e celeste.

Fazenda Cabangu, casa onde nasceu Santos_Dumont.

Estação de trem, em Barbacena.